20 de março de 2010

Cap. V - Pânico


Em frente à névoa, Catarina concentrou-se em encontrar Guilherme. Duas pessoas na penumbra conversavam. Um deles era Guilherme, tinha quase a certeza. Mas e o outro? Aproximou-se, cuidadosa. Ouviu um gato ao seu lado miar: pêlo cinzento azulado e olhos prateados. Estava sentado nas patas traseiras, mas parecia pronto a saltar a qualquer momento para cima de caixotes partidos, onde podia estar fora de alcance de alguém que o tentasse agarrar. Uma voz desconhecida, grossa e rouca, abordou a sua audição.
"-Desde que ela entrou na vida dele, tu estás distraído. Não te podes nunca esquecer do teu objectivo, ou eles..."
A outra sombra moveu-se. Catarina apercebeu-se que fora descoberta, e teve a sensação de estar enganada em relação à sua identidade: aquela sombra era alta demais para ser Guilherme...
"-FOGE!!". Catarina olhou para a esquerda e viu Guilherme, à entrada dum beco, a olhar directamente para ela. O gato assanhou-se, bufou e saltou para cima dos caixotes, com o pêlo todo eriçado e a brilhar, de forma a que parecia estar coberto de agulhas afiadas. No segundo seguinte, sentiu uma pequena brisa e estava encurralada pela sombra que achava ser do namorado. "-Não vais escapar", disse o desconhecido. Agarrou-a pelo braço e, onde era de esperar que estivessem os seus olhos, abriram-se duas fissuras estreladas. Ela olhou directamente nelas... Começou a sentir falta de ar, como se os pequenos pontos brilhantes dos "olhos" da sombra estivessem a sugar o oxigénio que os rodeava. O medo que a invadiu deu-lhe a sensação de estar a ser possuída, não tinha controlo sobre si mesma. Ouvia passos de corrida, o gato a miar... Sentiu a cabeça a estalar de dor, a gravidade a ficar pesada, e tão depressa como tudo começou, acabou.

Acordou. Estava na sua cama enrolada nos lençóis, em posição fetal. Sentia picadas no peito, estava ofegante e tinha a chamada "dor de burro" a apunhalar-lhe o lado esquerdo, como se tivesse corrido durante horas, mas sem uma gota de suor. Libertou-se dos lençóis, levantou-se e abriu a janela: estava um dia ensolarado de Primavera. Inspirou o mais fundo que as dores lhe permitiam uma vez, duas, três. Acalmou-se, sentou-se no puff preto que tinha perto da janela e relaxou. Recordou o sonho: sombras de dois homens, Guilherme a gritar e a correr para a salvar, pontos brilhantes como estrelas...
Tocou o telemóvel. Catarina abriu os olhos e deixou tocar. A música padrão do seu novo Nokia dançava pelo quarto, e à terceira chamada Catarina decidiu ir atender. Guilherme.
"-Estou, Catarina? Diz-me por favor que estás bem. Vou apanhar o próximo vôo para Portugal, mas quero saber como estás."
Catarina respirou fundo e começou a chorar silenciosamente. "-Falamos quando chegares", e desligou. Havia muita coisa para esclarecer, vidas a decidir. Sentou-se de novo e, erguendo a barreira habitual contra Sonhos, adormeceu sem reparar num fino fio de pêlo cinzento azulado caído na sua camisola branca.

1 comentário:

  1. eheheheheh fui enganado lolol
    afinal a história segue outra direcção lolololol

    alguém anda a enganar.me lololol

    parece.me que ainda vou ficar surpreendido com o desenrolar da história lololol
    o melhor é esperar antes de fazer novas análises cheias de certezas lololol só eu para achar k sei mais k os outros lololololol

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