17 de março de 2010

Cap. III - Deja vu? (parte II)


Abriu os olhos e sentou-se na cama. Estava com o corpo dorido e alagado em suor frio. Catarina estava a seu lado, sentada com as pernas cruzadas, segurando-lhe na mão e de olhos fechados. Aparentemente não se apercebera que ele acordara, mas assim que ele começou a endireitar-se na cama, ela disse "Ainda não acabou, tens que os acalmar!" e abriu os olhos.
-O quê? - perguntou Guilherme, sentando-se de frente para ela.
-Não sei. Estava lá contigo, mas não me vias. Foi estranho... Senti-me invisível. E depois, quando apareceu o deserto, comecei a ver apenas manchas amarelas na minha mente, e desisti de sonhar.
Tinha a cara vermelha da ansiedade e estava a tremer ligeiramente. Catarina tremia sempre assim quando tinha receio ou estava nervosa. Era um tremer quase ininterrupto, eléctrico, imperceptível. Parecia estar electrificada.
-Já passou. - disse Guilherme. - Para a próxima, vou sozinho. Foi estúpido da minha parte pedir-te que viesses comigo. Podias ter sido atacada.
Catarina anuiu. Sabia que por muito que fosse também capaz de Sonhar, não era tão invulnerável como Guilherme. Aliás, ninguém o era. Os Sonhadores podem lutar entre eles, ferir-se. Até mesmo matar-se. Mas quando envolve criaturas do Mundo, há que fugir, escapar, tentar sair do Sonho com o mínimo de dano possível. Eles sabiam de casos em que pessoas haviam morrido durante o sono e que apresentavam pequenas nódoas negras ou ferimentos aparentemente pequenos mas que na "realidade" eram as maiores feridas que poderiam haver.
-Não. - disse ela, levantando-se da cama e pondo uma expressão decidida - Não vais sozinho. Eu quero, e vou, ajudar-te. Tens que acalmar as... OS seres que te querem atingir. Nem pensar que te deixo ir só.
Guilherme sorriu e levantou-se também. Aproximou-se, abraçou os seus lábios aos dela e sentiram como se o mundo tivesse parado. O sentimento que os unia era de tal forma perfeito e inquebrável que os fazia sentir que eram invencíveis. Nada os podia quebrar, estavam prontos para lutar contra a galáxia inteira se tal fosse preciso.
Naquele momento, naquela manhã, naquela vida, eles eram um.

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