20 de março de 2010

Cap. IV - Gémeos


Catarina tinha acabado de desligar a chamada com a irmã e preparava-se para dormir, quando recebeu uma sms. Diana: "Esta noite acho que vou sonhar". Não queria deixá-la sozinha, sabia que a melhor amiga estava numa situação desesperante: mãe no hospital, pai alcoólico, irmão na droga. Catarina respondeu "Não estás sozinha", e deitou-se. Sentia a ausência de Guilherme. Ele tinha ido visitar a avó que estava muito doente e vivia em França, e ela não iria dizer que não, pois percebia perfeitamente a situação, mas não conseguia disfarçar as saudades. Podia sempre vê-lo em sonhos, mas não era a mesma coisa. Por vezes, nem era mesmo ele; apenas imagens desesperadas da sua mente. Adormeceu...

Uma névoa densa pairava á sua volta. Ela sabia que encontrar Sonhadores era uma capacidade rara, e exigia controlo sobre a névoa. Fechou os olhos e concentrou-se em Diana. Primeiro visualizou duas raparigas parecidas com a amiga: uma estava pendurada de pernas para o ar sobre um vulcão, por uma corda de ferro. Parecia gritar, mas em silêncio. A outra estava a rir-se à beira da abertura do mesmo vulcão, mas chorava ao mesmo tempo. Decidiu não fazer nada; já estava familiarizada com as armadilhas daquele mundo. Concentrou-se mais na imagem de Diana: alta, ruiva, de olhos verdes, com sardas e uma pequena aranha tatuada no pulso direito... Encontrou-a. Estava em cima duma ponte, sozinha. Parecia a ponte 25 de Abril, mas negra. Aproximou-se e falou-lhe.
"-O que estás a fazer neste sítio? Já te disse que é perigoso e só te faz mal, esquece isto..."
"-Como queres que esqueça o sítio onde a Cláudia... desistiu? É impossível!! Quero-a de volta Catarina, quero a minha irmã de volta!!!". Aproximou-se da beira da ponte e vacilou.
"-Ninguém pode perceber pelo que ela estava a passar. Por favor Diana, não faças isso... Tens os teus amigos, a tua família!"
"-Ela era a única que entendia exactamente aquilo que passávamos, era ela que me apoiava e eu a ela... Gémeas e inseparáveis, por que é que ela fez isto??". E saltou.

Catarina acordou. Agarrou no telemóvel, marcou o 3 e esperou. Começou a chamar, continuou e foi para o voice mail. Repetiu. À terceira tentativa, atenderam.
"-Estou, Diana??"
"-Sim... Tenho estado à tua espera no sítio do costume, demoras?"
Catarina engoliu em seco. Era a quarta vez que aquilo acontecia, e Diana parecia nunca se aperceber. Das outras vezes, também Diana (supostamete) havia cometido suicídio e, após tentativa de contacto, Catarina conseguiu sempre falar com ela. Não percebia por que é que isso acontecia, mas Diana não era definitivamete a rapariga que se matava. Não podia.
"-Podemos não sonhar hoje? Estou cansadíssima."
"-Claro. Queria só sonhar com a minha irmã e ia pedir-te que ficasses de olho para o caso de perder o controlo... Mas podemos fazê-lo outra noite, sem problema. vemo-nos amanhã."
Desligaram e Catarina virou-se na cama. Tinha acabado de se aperceber que a amiga podia nunca ter tido controlo algum sobre os sonhos. Precisava de Guilherme.

1 comentário:

  1. telepatia:)
    ou talvez mais do que isso lol

    ninguém, verdadeiramente, controla nada eheheheh
    e cá para mim.. ainda bem:)

    _
    ps. eu sei uma coisa k nem a catarina nem a diana nem mesmo o autor sabe lolololol

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