27 de fevereiro de 2010

Relâmpagos e Caminhos


"BRRRRUUUUUUUMM!!!"

O soar de um trovão.
A porta estava aberta e as pessoas moviam-se. Sombras de pessoas, adultos e crianças, a dançarem ao som de valsa clássica, aos pares ou sozinhas. Passo pelas portas e olho em redor. Um espelho à esquerda. Aproximo-me e observo-me: estou igualzinho. A minha camisola vermelha com grandes botões pretos, umas calças super normais, um casaco de cabedal.

Um relâmpago. "BRRRRUUUUUUUMM!!!"

Ouço gritos. Gritos de pânico. Alguém me chama, uma voz idêntica à minha, mas cada vez a ouço mais longe. Corro para o salão e as sombras desaparecem pelas paredes. Continuo a ouvir os gritos, agora abafados, da pessoa com a voz igual à minha. A chuva luta corajosamente contra as janelas. Uma luta de titãs.

Segundo relâmpago. "BRRRRUUUUUUUMM!!!"

Vejo portas a fechar-se. O espelho a partir-se no fim do corredor. Uma gargalhada. Desta vez, de mulher, e pelo riso denoto que é detentora de uma voz melodiosa.
"-Quem está aí?" muito estupidamente pergunto eu, sabendo que ninguém me vai tornar resposta. Começo a abrir portas, e atrás de cada uma delas está uma parede de tijolos. Nada faz sentido. A luz apaga-se.

Terceiro relâmpago. "BRRRRUUUUUUUMM!!!"

A luz volta. Pestanejo várias vezes. Estou num prado. O vento corre á minha volta, sem me tocar, e os trovões mergulham na terra sem o menor ruído, aparentemente marcando território e deixando apenas um ténue trilho verde que conduz a um rio. Faço o caminho, sempre cauteloso, mas com um frio estranho a percorrer-me as costas. A luz do Salão, confinada a uma pequena esfera luminosa, segue-me de cima e ilumina o trilho. Começo a ouvir gritos. A mesma voz. Desato a correr em direcção à cascata.
Cascata?!

Quarto relâmpago. "BRRRRUUUUUUUMM!!!"

Estou rodeado de pessoas. Pareço uma sardinha no meio de outras, enfiadas numa lata de conserva. Tantas pessoas... Mulheres... Altas... Com cabelos, suaves, brilhantes, parecem diamantes...
Diamantes...?
Mulheres de cabelos de vidro!! Agacho-me e espero que se afastem com o próximo trovão. Sinto que não gostam do som dos trovões. A pequena esfera ilumina o chão e encontro um apito. Apanho-o. Sopro com toda a força, e dele sai o som de um trovão, como se rebentasse mesmo ali à minha frente! As mulheres de cabelos de vidro caem. Mortas.

Quinto relâmpago. "BRRRRUUUUUUUMM!!!"

Estou de volta ao Salão. Agachado no meio das pessoas, enquanto elas dançam, reparo que estou vestido de maneira diferente, com roupas que parecem de veludo. O que se passa?
A cascata está mesmo atrás de mim. Vai rebentar. Como sei? Não sei.

"BRRRRUUUUUUUMM!!!"

Não foi um relâmpago.

3 comentários:

  1. estes textos [2 últimos] estão sempre cercados de mistério e de um ambiente mto, mto visual lol

    há sempre alguma coisa da Alice neles.. num estilo k roça o fantástico

    parabéns!! vale a pena investir no aperfeiçoamento:)

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  2. será tudo isto inspiração do calor que tem feito?! lolololol

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  3. diamante e vidro. cortam tudo mas ninguém os pode cortar a eles. bom o diamante corta o vidro, mas não vice-versa.

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