20 de abril de 2010

Cap. X - O som do adeus


Na sala, Catarina permanecia deitada. À espera. Tentava perceber se o copo era real, se a sala era real, se ela era real. Não tinha coragem para se levantar. Tinha medo, muito medo, de ter ficado presa no outro mundo. O mundo que visitara tão ocasionalmente, quase de forma extravagante, de forma inconsequente, de forma perigosa. Respirava pausadamente. Se estivesse no mundo dos sonhos, qualquer movimento brusco poderia despoletar uma variedade de reacções em efeito dominó. Com a mão esquerda beliscou as costas da mão direita. Doeu. Olhou lentamente em redor; a sala permanecia imaculada. Tentou então materializar a névoa, fechando os olhos e parando de respirar. Dentro dela, uma ansiedade esmagou-lhe o coração, já ele envolto em medo. Abriu os olhos e expirou, aliviada. Nada. Estava no mundo real, na divisão ao lado do quarto, onde adormecera havia três horas, como pôde constatar pelo relógio digital do leitor de dvd. Levantou-se e dirigiu-se ao quarto. Abriu a porta. Guilherme continuava a dormir. Parecia nem respirar, tal era calmo o seu sono. Catarina sorriu. Deitou-se ao seu lado e abraçou o seu corpo destapado. Estava calmo. Catarina beijou-o no pescoço, aliciando-o a acordar. "Guilherme", sussurrou-lhe ao ouvido. De repente, Toga apareceu-lhe na mente. Sentiu perigo. Agarrou-se a Guilherme e fechou os olhos. Queria esquecer, nem que fosse por instantes, aqueles sonhos malditos. Queria dormir, não sonhar, estar com o amor da sua vida...

As luzes da ambulância acordaram Guilherme. Uma tragédia. Saiu do quarto para descobrir Rodrigo na sala, a chaise-longue rodeada de paramédicos e polícias. Olhou para Rodrigo, que não conseguiu olhá-lo nos olhos. Avançou para a causa das visitas indesejadas.
Catarina. Serena, calma, como que adormecida. As suas madeixas azuis estavam perfeitamente alinhadas com o resto do negro cabelo. Parecia pronta para ir para a faculdade. Guilherme sentiu o coração a ficar pequenino. O médico-legista declarava naquele momento "morte natural", mas Guilherme fixara-se numa linha brilhante no peito de Catarina. Uma linha brilhante, prateada, comprida. Como um pêlo de gato. Um copo caiu e partiu-se, assim que Guilherme recuou. A sua vida, acabada.

1 comentário:

  1. de volta lolol
    o inesperado acontece e deixa.me confuso..

    é de arte que se trata eheheheheheh

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