2 de dezembro de 2011

Mistérios Da Vida - II.5

Sempre se orientara pela intensidade das luzes existentes na sua mente. Elas diziam-lhe o que fazer, quando, como, com quem e porquê. Pequenas ideias passeavam no seu cérebro, vindas da lareira da alma, e iluminavam a sua consciência: quentes, crepitantes, como uma pequena fogueira que arde, alegremente.
Mas agora as luzes tinham desaparecido. As pequenas bolhas de sabão com aspecto inflamável estavam apagadas, adormecidas, como a cinza que sobra de um incêndio, e por muito que Filipe tentasse decidir o que fazer a seguir, apenas uma pequena luz, trémula e tímida, restava. Uma luz solitária que lhe aquecia uma ideia: fugir. Fugir daquela cidade, daquelas pessoas cruéis que o conheciam desde criança e que o maltratavam, que o adotaram por capricho, por inveja dos seus conhecidos, por ambição de parecerem uma família interessante. Lisboa parecia a cidade indicada. Era grande, povoada o suficiente para "desaparecer" lá dentro, rica em cultura e distrações que o ajudassem, além de ter lá amigos que lhe garantiam entrevistas pormissoras em locais emblemáticos, em lojas de centros comerciais e até mesmo em dois ou três bares bastante lucrativos do Bairro Alto. Nunca sentira que pertencia ao Porto, e embora achasse a cidade linda, não era feliz. E depois daquela noite, daquela violência que o mantinha acordado havia horas e lhe apagara todas as chamas que o definiam, ele só pensava mesmo em fugir. Esperava que essa fuga o ajudasse a encontrar maneira de as reacender, para não se perder para sempre. Tinha de ligar rapidamente à sua melhor amiga: Laura.

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