2 de maio de 2010

Cap. XII - Apoteose do Guerreiro II


Agulhas voavam na direcção de Guilherme. Ele esquivava-se, saltava, até que se escondeu atrás de um muro, dentro da cidade escura.
"-Sai daí, cobarde. O teu inimigo sou eu, vem e luta!"
Guilherme estava ofegante. Estavam naquele combate à cerca de uma hora, e pouco conseguira fazer para atingir Toga, a não ser quando algumas agulhas fizeram ricochete na direcção da gata branca, e Toga a foi proteger. Aí, Guilherme agarrou-o pela cauda e atirou-o para o outro lado do rio. Ao correr sobre a água, o gato cinzento transformou-se no guerreiro que havia defendido Guilherme no passado. Agora, Guilherme tinha que se defender. A não ser que acordasse. Mas isso seria cobardia. Não iria fugir.
Saiu de detrás do muro e parou, de frente para Toga. Fitaram-se. Algo em Toga estava diferente... Os olhos. Negros, e com os pontos estrelados mais brilhantes. Percebeu então o que se passava. O Sombra...
Ultimamente, revivera os últimos momentos do sonho em que Catarina morrera, mas assim que chegava ao momento em que o Sombra os atacara, tudo ficava nublado, estranhamente desfocado.
Toga atacou. Pontapé com a perna esquerda, seguido de murro com o punho direito. Guilherme bloqueava os ataques, mesmo de olhos fechados. Percebera o que acontecera com Toga. No momento em que disparara em direcção a eles, desvaneceu-se em fumaça negra e envolveu Toga, que estava logo acima. Catarina chamara a névoa, mas assim que Guilherme passou por ela, a rocha onde estava Toga quebrou-se e caiu sobre eles.
Abriu os olhos, enquanto Toga o atacava, os olhos cada vez mais brilhantes, os golpes mais velozes. Saltou e disparou agulhas sobre Guilherme, que se defendeu delas com destreza. Num movimento rápido, baixou-se e lançou-se ao pescoço de Toga. Apertou. Sabia que era o momento perfeito para aniquilar o Sombra de vez... A capacidade dele permitia-lhe viver em qualquer corpo. Não podia deixá-lo escapar.
Acabou com tudo num segundo. Toga, com a cabeça num ângulo estranho, caiu no chão. Só faltava a pequena gata branca. Guilherme olhou para o fundo da rua; lá estava ela, à entrada do beco. Correu para lá, mas os seus movimentos pareciam mais lentos que o costume. Olhou para uma janela. Os seus olhos apresentavam uma cor mais escura que o habitual, com pequenos pontos estrelados a aparecerem na íris. O Sombra. Começou a sentir o corpo mais pesado, os pulmões a ficar sem ar... Sentiu a vida a escapar-se pelos dedos, o seu ser absorvido pela vontade psicótica do Sombra. Olhou para a gata.
"-Não devias ter confiado em mim. Foi a tua ruína. Adeus.'
Caiu de joelhos. Sangrava pelos olhos, e o sangue era negro. E a dor era imensa. E o fim estava ali.
E o Campeão caiu.

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